FOLHA DA ASSOCIAÇÃO FREI TITO DE ALENCAR

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Frei Tito de Alencar no XIII Ceará Junino



A Associação Frei Tito de Alencar é, verdadeiramente, uma das responsáveis pelo desenvolvimento cultural de Pindoretama e demonstrará isto no dia 02 de julho quando, em conjunto com o Instituto Beija Flor, realizará o II Festival Itinerante de Quadrilha Junina em nosso município.

O 2º Festival Itinerante de Quadrilha Junina este ano de 2011 acontece em duas cidades: Cascavel e Pindoretama. O festival é a etapa regional do XIII Festejo Ceará Junino da Secretaria de Cultura do Governo do Estado e reúne os grupos de quadrilhas juninas do Litoral Leste. A campeã irá representar a região na grande final no dia 08 de julho no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. As inscrições estão abertas (85) 8724.1266

Visite o blog do festival e tire suas dúvidas: www.itinerantejunino.blogspot.com

Além das quadrilhas juninas ainda haverá a apresentação do Grupo de Flautas Frei Tito de Alencar e a escolha da Garota Junina 2011.

domingo, 5 de junho de 2011

Uma pedra para Tito


ESPECIAIS/ SANTIFICADOS III

04. 06. 201117:00

FREI TITO DE ALENCAR ESCOLHEU A MORTE PARA NÃO PERDER A VIDA. ENCARNOU O CRISTO TORTURADO E O CRISTO DA JUSTIÇA SOCIAL


Entre as anotações que frei Tito de Alencar Lima (1945-1974) fez ou sublinhou da vida, a profecia bíblica de Lucas 19, 29-40, “Se calarem a voz dos profetas, as pedras falarão”, é a que, mais agudamente, recorda o martírio sofrido nos porões da ditadura militar brasileira (1964-1985). A assertiva foi a lápide do frade dominicano, primeiro, na França (onde morreu exilado). É a afirmação que abriga seu espírito e, principalmente, que não lhe deixa morrer de todo.


Calaram frei Tito - leitor de Cristo, de Sartre, de Tolstoi, do redor e do País - com um suicídio, no dia 10 de agosto de 1974. Mas Nildes de Alencar, a irmã que cuidou do caçula (e, de certa forma, ainda cuida), transformou-se naquela pedra da profecia. Uma vez mais “e sempre”, a educadora expõe documentos, narrativas, fotografias, memórias e coração no reviver sem fim dos tempos de chumbo.


A vida seguia pela rua Rodrigues Júnior, 364, casa de dona Laura e seu Ildefonso de Alencar Lima. Era uma “vida de muita politização”, aponta Nildes, na qual o gerente de uma agência de ônibus contava, para uma dezena de meninos e meninas, histórias sobre direitos humanos e justiça social. Dona Laura, por sua vez, ocupava-se dos ensinamentos religiosos - utopias possíveis, como o amor ao próximo. “Foi nesse contexto que Tito se desenvolveu”, sublinha Nildes. E a Juventude Estudantil Católica (JEC), grupo no qual o inquieto Tito ingressou quando estudava no Liceu do Ceará, foi sua partida para o mundo.


Na JEC e, adiante, na Ação Católica, sublinha Nildes, “o cristianismo engajado na realidade, o engajamento social” determinou o norte. “O compromisso era uma presença do Cristo onde estivesse... Os outros deveriam olhar para o militante como um outro Cristo”, complementa. E Tito, assim como São Paulo (”Não sou eu quem vivo mais, é o Cristo quem vive em mim”), despojou-se de si. “Ele entendia que a presença do cristão era a transformação do mundo. Era este reino de Deus que tanto sonhamos, a justiça, a verdade”, associa Nildes de Alencar.


Até que a ditadura atravessou todo entendimento. Na época do golpe militar, reconstitui a biógrafa Socorro Acioli no livro Frei Tito (Edições Demócrito Rocha, 2001), o frade dominicano cursava Filosofia na Universidade de São Paulo e estava envolvido no movimento estudantil. Dali para a prisão e a tortura no antro do delegado Sérgio Paranhos Fleury, em 1969, bastou o frei participar do 30º Congresso Nacional da UNE, realizado às escondidas, em 9 de outubro de 1968. “Por um mês, frei Tito foi interrogado quase que diariamente pela fúria do delegado Fleury. Desde então, a voz do seu torturador não lhe saiu mais da mente”, destaca Socorro Acioli.


Em 1973, já exilado em Paris, frei Tito acredita ser perseguido não só pelo delegado, mas também por dois jornalistas ingleses - que Nildes prefere nomear agentes da CIA e carrascos de uma sentença ainda dada sob a lei do porão: “Eles disseram que, se ele escapasse, saberiam fazer a coisa sem deixar marca”.


Para Nildes, “o suicídio foi a mandado de todo esse contexto, de toda alucinação. Ele foi conduzido a tirar sua vida”. A negação da morte do irmão (que Nildes viu crescer extrovertido e amado) pelas próprias mãos e - mais - a crença que frei Tito “é um santo mártir, quer queria, ou não, a ditadura fez um mártir”, é o recomeço de uma outra história, que Nildes acende para o mundo. “Tito está entre os mártires da América Latina”, canoniza.



Em março de 1983, ”praticamente intacto”, descreve a biógrafa Socorro Acioli, o corpo de frei Tito foi trasladado para o Ceará. Está sepultado no cemitério São João Batista

Tito de Alencar Lima gostava de futebol, música e peraltices em geral. Ingressou na Ordem dos Frades Pregadores de São Domingos, nos anos 60, a convite de frei Betto

Entre os escritos, Tito relata as torturas no covil do delegado Fleury:“A cada descarga (elétrica), eu estremecia todo, como se meu organismo fosse se decompor”

A vida e o martírio do frade dominicano ganharam leituras em livros e filmes, como
de Batismo de Sangue (2006), baseado no livro homônimo de Frei Betto

Um emprego obtido, uma angústia sanada, cita Nildes de Alencar (em foto acima), são graças já atribuídas a frei Tito. No túmulo do frade, as pessoas costumam deixar, além de flores, pedras

Frei Tito empresta o nome e dita a missão a instituições de direitos humanos e agências de notícias. O Museu do Ceará (rua São Paulo, 51 -Centro) também lhe dedica um memorial. Acima, pertences expostos no local
Ana Mary C. Cavalcante
anamary@opovo.com.br